Págs. 134, 135 e 136
[...]Mas quando estávamos começando a ficar animados com a nossa vida no campo, Thelma de repente fez "xiiiu!" e disse: -Consegue ouvir isso?
-O quê? -perguntei
-Esse clique
-Que cliq...? -Nesse momento, também ouvi.
Era mais um barulho de gotas do que um clique.
Tick, tick, tick, tick.
Olhei para baixo e vi uma grande poça embaixo da cadeira de Thelma. Algo estava pingando do vestido dela. Aí uma das senhoras da casa de chá começou a reclamar da bagunça no chão.
-Oh, meu Deus -disse Thelma.- Minha bolsa estourou.
-O que você está dizendo? -eu falei. -Você se mijou?
-Não John. Minha bolsa estourou.
-Hã?
-Estou tendo o bebê.
Eu pulei tão rápido da cadeira que minha cadeira caiu. Todo o meu corpo ficou paralisado de pânico. Não conseguia pensar. Meu coração parecia uma bateria. A primeira coisa que pensei foi: Não estou bêbado o suficiente. A garrafa de conhaque que tinha trazido já estava vazia. Eu sempre pensei que Thelma iria até o hospital para ter o bebê. Não achei que iria acontecer de repente - no meio da porra da casa de chá!
-Alguém aqui é médico? -gritei, olhando desesperado no lugar. -Precisamos de um médico. Socorro! Precisamos de um médico!
-John -falou Thelma. -Você precisa me levar ao hospital. Não precisamos de um médico.
-Precisamos de um médico.
-Não precisamos.
-Precisamos, sim -eu reclamei. -Não estou me sentindo bem.
-John -disse Thelma. - Você precisa me levar ao hospital. Agora.
-Não tenho carteira de motorista.
-Desde quando você obedece à lei?
-Estou bêbado.
-Você está bêbado desde 1967! Vamos, John. Rápido.
Levantei-me, paguei a conta e levei Thelma para fora, até o carro. Não tinha idéia de como dirigir aquela coisa. Meus pais nunca tiveram carro e eu sempre assumi que nunca seria capaz de comprar um, então nunca tive nenhum interesse em aprender a dirigir. Tudo que sabia era o básico, como ligar o rádio e abrir as janelas.
Mas pedais? Afogador? Embreagem?
Não.
O carro foi aos soquinhos como um canguru de saco cheio por uns vinte minutos antes de começar a andar. Na mão errada. Aí eu finalmente descobri como colocar em primeira.
-John, você precisa pisar no acelerador. -disse Thelma, entre gemidos.
-Meu pé está tremendo -eu falei. -Quase não consigo mantê-lo no pedal!
Minhas mãos estavam tremendo também. Estava aterrorizado porque nosso bebê ia acabar saindo de Thelma direto para o painel, de onde poderia sair voando porque a capota ainda estava abaixada. Podia imaginar a manchete: "BEBÊ DE ROQUEIRO MORRE EM TERRÍVEL TRAGÉDIA".
-Sério, John. Arrgh! Vai mais rápido. Arrgh! Estou tendo contrações.
-O carro não vai mais rápido.
-Você está indo a quinze quilômetros por hora.
[...]
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